A natureza pode ser irônica quando responde às agressões causadas pelo homem. Exemplo disso é a relação da humanidade com a água, o liquido mais abundante da Terra. tratamos tão mal nosso Planeta que acabamos nos colocando numa realidade catastrófica, de dupla face: ao mesmo tempo que corremos o risco de afogar nossas cidades sob água salgada do mar, padecemos da falta de água doce. De um lado está o aquecimento global, com o consequente derretimento das geleiras e a elevação do nivel dos mares, que ameaça desalojar bilhões de habitantes das zonas litorâneas. De outro, há o esgotamento das reservas de água potável do Planeta. Em outras palavras, estamos chegando à mesma situação extrema de um náufrago, que se vê com água por todos os lados, mas sem nenhuma gota para beber.
Relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) repetem o diagnóstico cada vez mais alarmante: mais de 1 bilhão de pessoas - equivalente a 18% da população mundial - não tem acesso a uma quantidade mínima aceitável de água potável, ou seja, água segura para o consumo humano. Se nada mudar no padrão de consumo, dois terços da população do Planeta em 2025 - 5,5 bilhões de pessoas - poderão não ter acesso à água limpa. E, em 2050, apenas um quarto da humanidade vai dispor de água para satisfazer suas necessidades básicas. A escassez de água não ameaça apenas com sede. Traz a morte na forma de doenças. Segundo a ONU, 1,7 bilhão de pessoas não tem acesso a sistemas de saneamento básico e 2,2 milhões morrem a cada ano em todo o mundo por consumir água contaminada e contrair doenças como diarréia e malária.
Aágua potável é um bem raro por natureza. Quase 97,5% da agua que cobre a superfície da Terra é salgada. Dos restantes 2,5%, dois terços estão em estado sólido, nas geleiras e calotas polares - de dificil aproveitamento. A maior parte da água em estado liquido encontra-se no subterrâneo, lagos, rios e lençóis freáticos menos profundos são apenas 0,26% de toda água potável. É dessa pequena fração que toda a humanidade (e boa parte da flora e fauna) depende para sobreviver. É claro que, a princípio, fontes não deveriam esgotar-se, com o ciclo da água garantindo a permanente renovação do volume de rios, lagos e lençóis freáticos por meio das chuvas, originadas pela evaporação dos mares. A água está em eterna reciclagem, há bilhões de anos. A questão é o descompasso entre o tempo necessário para essa renovação e o ritmo que exploramos os recursos hídricos.
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